Espécie nativa da floresta amazônica, o cacau pode gerar desenvolvimento econômico, social e ambiental no Estado
Segundo relatórios da agência internacional de análise mercadológica Euromonitor, o mercado mundial de chocolate movimenta mais de U$S 100 bilhões em vendas e tem potencial para expandir ainda mais.
O que talvez você não saiba é que o cacau, principal matéria-prima na produção do chocolate, é um fruto nativo da região amazônica e que o solo rondoniense tem características ideais para produzir amêndoas de alto valor de qualidade, capaz de atender ao mercado internacional dos chocolates finos.
Foi apostando neste potencial que o Centro de Estudos Rioterra, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC/RO) e mais seis municípios da região central do Estado se uniram na criação do Núcleo Central de Desenvolvimento da Cacauicultura, espaço de articulação entre organizações públicas e privadas para abrir caminhos ao fortalecimento da atividade cacaueira.
Os municípios signatários do Termo de Cooperação são: Ouro Preto do Oeste, Urupá, Teixeirópolis, Nova União, Mirante da Serra e Vale do Paraíso.
“Nosso objetivo é criar uma rede para fortalecer toda a cadeia produtiva com investimentos em tecnologia, treinamento e beneficiamento para produzir amêndoas de qualidade para produção de chocolates finos, inserindo o produto rondoniense no mercado internacional do cacau”, explica Alexis Bastos, coordenador de Projetos do Centro de Estudos Rioterra.
Propriedades de 25 agricultores familiares foram selecionadas para serem vitrines tecnológicas voltadas ao desenvolvimento do cacau. Nessas propriedades modelos, serão construídas unidades de beneficiamento primário para fermentação e secagem do cacau. Eles receberão também assistência técnica especializada, mudas e apoio para a venda no mercado exterior.
“Também estamos elaborando um estudo de viabilidade econômica do cacau e um plano de negócios pra orientar investimentos neste mercado em RO. Esse ano produziremos cerca de 400 mil mudas de cacau para serem doadas aos agricultores dos municípios parceiros que tiverem interesse nessa cultura”, complementa Bastos.
Muitas vantagens
E o potencial do cacau vai além das questões econômicas e de inclusão social. Incrementar a geração de renda e melhoria da qualidade de vida para a agricultura familiar é apenas uma de suas vantagens. A produção do cacau também pode ser um importante aliado na recuperação da cobertura vegetal de áreas degradadas e no combate as mudanças climáticas.
“O pé de cacau precisa de sombra para crescer, portanto, é uma espécie agrícola que se adapta no plantio com árvores de porte grande, em arranjos de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Esse modelo de plantio possibilita recuperar passivos ambientais, regularizar ambientalmente a propriedade rural e ainda, gerar desenvolvimento econômico e social aos agricultores”, elenca Antônio Deusemínio de Almeida, coordenador regional da CEPLAC/RO e produtor de cacau.
O plantio do cacau em arranjos de SAFs também pode contribuir na redução de emissões de gases do efeito estufa e apoiar o Brasil a cumprir o compromisso estabelecido pela 21ª Conferência do Clima (COP-21) de redução absoluta de emissões de gases do efeito estufa e restauração florestal. É o que mostram os estudos do Pesquisador da Embrapa Territorial, o doutor em Economia Ecológica João Mangabeira.
“A produção em pequena escala, realizada a partir da agricultura familiar, desempenha papel fundamental no volume colhido e na provisão de serviços ecossistêmicos, como a captura de carbono. Ao comparar áreas de plantio do cacau com outros modelos agrícolas, nota-se também suas qualidades conservacionistas, como a capacidade de manter o solo rico em matéria orgânica, manutenção da qualidade da água e da diversidade biológica”, complementa Mangabeira.
As ações de fortalecimento da cadeia produtiva do cacau em Rondônia fazem parte do Plantar Rondônia, projeto realizado pelo Centro de Estudos Rioterra em cooperação com a Ação Ecológica Guaporé e a Federação dos Trabalhadores Rurais de Rondônia, em parceria com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) e apoio financeiro do BNDES através do Fundo Amazônia.