Segundo relatório do IPCC, para evitar uma grande catástrofe climática é preciso remover dióxido de carbono da atmosfera e zerar as emissões até 2050
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização das Nações Unidas (ONU) para tratar sobre a emergência climática no mundo, lançou no dia 9 de agosto novo relatório sobre o tema. Trata-se do Resumo para Formuladores de Políticas (SPM) da contribuição do Grupo de Trabalho I ao Sexto Ciclo de Avaliação (AR6 WGI), intitulado “Mudanças Climáticas 2021: a Base das Ciências Físicas”.
O documento apresenta a maior e mais recente avaliação do conhecimento sobre ciência climática a partir do estudo de mais de 14 mil artigos científicos e contou com a participação de 234 autores e 195 governos em sua aprovação.
O trabalho examina a base física das mudanças climáticas passadas, presentes e futuras e como as emissões de gases de efeito estufa (GEE) causadas pelo homem estão levando a mudanças fundamentais no sistema climático planetário. Apresenta como essas mudanças estão causando impactos já no atual nível de aquecimento e como mapear o quanto esses impactos podem piorar se as temperaturas e emissões continuarem a aumentar no ritmo atual.
Uma das conclusões mais importantes apresentadas e da qual os cientistas não têm dúvidas, é a de que dos 1,09°C de aumento da temperatura no planeta desde a era pré industrial, 1,07°C são de responsabilidade humana.
E se as atividades humanas são responsáveis pelo aquecimento do planeta, a solução para evitar catástrofes climáticas iminentes cabe também ao ser humano e a sua capacidade de implementar ações eficientes e mudanças estratégicas nos atuais modelos de produção, uso dos recursos naturais e dinâmicas econômicas, sociais e ambientais para diminuir consideravelmente as emissões de GEE nas próximas décadas.
De acordo com o estudo, o planeta aquecerá em 1,5°C em todos os cenários e, sem intervenções drásticas nas emissões, é possível que a temperatura do planeta chegue a 2º C até o final do século, o que resultaria em impactos irreversíveis e catastróficos para a humanidade.
No melhor cenário de redução de emissões, uma temperatura de 1,5°C é alcançada nos anos 2030, ultrapassada em 1,6°C nos anos seguintes, voltando a cair para 1,4°C no final do século. E como limitar o aquecimento global a esses níveis? Reduzindo as emissões acumuladas de CO2 em 50% nos próximos anos e chegando a zero emissões líquidas até 2050. E limitar o aquecimento a esses níveis e evitar os impactos climáticos mais severos depende principalmente de ações nesta década.
Trazendo para o cotidiano, quais são os impactos que as mudanças climáticas provocam na vida das pessoas? Já são muitos os desequilíbrios ambientais com o atual aquecimento médio de menos de 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais. Altas temperaturas em regiões conhecidas por seu clima frio, secas extrema em pontos do planeta e inundações e enchentes em outros, incêndios generalizados, tornados e furacões mais intensos e frequentes, elevação do nível do mar avançado sobre regiões do globo.
Há também graves reflexos sobre a diversidade biológica do planeta com possível extinção em massa de espécies da flora e da fauna. Temperaturas mais elevadas aumentam as queimadas que impactam na qualidade do ar, da água e do solo e no aumento na emissão de GEE. Desdobramentos com impactos ainda mais severos poderão ser vistos em regiões como a Amazônia, onde está a floresta tropical com a maior biodiversidade do planeta e milhões de pessoas que dependem de seus serviços ecossistêmicos como fonte de subsistência.
Esses impactos interferem na capacidade de produção agrícola e na segurança alimentar. Perda de cobertura vegetal, degradação do solo, poluição do ar e da água e escassez de outros recursos naturais impactam principalmente as populações mais pobres, em condições de vulnerabilidade social e com menos recursos para se adequarem aos novos cenários, como comunidades extrativistas, indígenas e agricultores familiares.
Os impacto das mudanças do clima na sociedade e nos ecossistemas são muitos e é imprescindível encontrar alternativas à eles, por isso, o Centro de Estudos Rioterra trabalha pela diminuição da vulnerabilidade social e restauração e conservação da biodiversidade há mais de 22 anos na Amazônia. Este tema será abordado com profundidade em outro relatório do IPCC ainda não divulgado, elaborado por cientistas do Grupo de Trabalho II (AR6 WGII).
O relatório publicado este mês aponta também que a remoção do dióxido de carbono (CDR) da atmosfera é necessária. Entre os métodos indicados no documento estão o reflorestamento e restauração de áreas úmidas, ações que fazem parte dos projetos desenvolvidos pelo Centro de Estudos Rioterra em apoio ao desenvolvimento sustentável dos povos tradicionais da Amazônia. O tema será abordado com profundidade no relatório do Grupo de Trabalho III (AR6 WGIII), que analisa as estratégias de mitigação das mudanças climáticas e que, em breve, também será publicado.
Para compreender melhor os desdobramentos das mudanças climáticas na região Amazônica e alternativas acessíveis e eficientes de ações que podem e já estão sendo implementadas na região para combater os impactos causados pelas mudanças climáticas continue acompanhando nossos conteúdos por aqui e em nossos perfis nas mídias sociais.
O Instituto ClimaInfo elaborou uma síntese em português destacando os assuntos principais apresentados no documento. Entre aqui para acessá-lo: Síntese Relatório do IPCC.
E o relatório original, em inglês, você pode acessar aqui: Relatório do IPCC (em inglês).